Thursday, February 22, 2007

Ciclistas reivindicam espaço, respeito e integração no trânsito

Ciclistas reivindicam espaço, respeito e integração no trânsito http://agenciacartamaior.uol.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=13577

Ao contrário do que muitos imaginam, as ciclovias não são vistas como uma panacéia pelos ciclistas. Para que a bicicleta efetivamente amplie seu espaço nas cidades, integração com outros transportes é fundamental.
SÃO PAULO – “‘Queremos ciclovias’, ‘Queremos ciclovias’... defender algo assim é reducionista como dizer que a solução para os transportes na cidade é pura e simplesmente o Metrô. Não é possível se fazer ciclovias em toda cidade”, pondera Thiago Benicchio, jornalista, responsável pelo blog apocalipse motorizado.

Para Benicchio, “existe um respeito crescente [pelas bicicletas na capital], mas também uma dificuldade permanente”. A avaliação dele é de que o número de ciclistas na cidade, que vem crescendo, está levando os motoristas a se acostumarem, se conscientizarem e respeitarem mais as bicicletas – que também trafegam de modo mais consciente. Em 1997, as viagens diárias por bicicleta na cidade eram 162.461, ou 1,60% das viagens individuais. Em 2002, elas passaram a responder por 2,59% das viagens individuais, ou 336.195 viagens.

A separação entre bicicletas e carros por meio de ciclovias – além de inviável na opinião dele – diminui os avanços no sentido de o respeito entre os diferentes se estabelecer no trânsito. “Se você busca separar, quando eles se juntam o respeito não acontece, e se estabelece o conflito”. Benicchio cita como exemplo dessa dificuldade a situação do Rio, que conta com uma grande extensão de ciclovias na orla, o que não ocorre na Zona Oeste, Zona Norte e Centro.

Segundo ele, “nas grandes vias, a ciclovia exclusiva é realmente uma opção”, ao passo que as ciclofaixas (apenas pintadas ao chão) “são uma opção intermediária”. O Código de Trânsito Brasileiro, porém “deveria ser respeitado, e as autoridades levarem a sério que o motorista tem de manter uma distância mínima das bicicletas, carroças, etc. O motorista de carro não é o rei da rua”.

Para que a bicicleta se torne um meio de transporte viável para um número mais expressivo de cidadãos do que hoje, a existência de estacionamentos em locais públicos e privados é fundamental. Mas não é o que se vê atualmente. Benicchio diz que a situação do poder público é “absurda” e que Prefeitura e Estado, especialmente nos terminais de ônibus e Metrô, deviam dar o exemplo.

Não são poucas as leis ou projetos que buscaram melhorar as condições para circulação das bicicletas na capital, mas, quase sempre, as propostas não passam da Câmara. Se passam e chegam a ser sancionadas pelo Executivo, acabam não sendo regulamentadas. Falta de pressão da sociedade, oportunismo, força do setor de transporte automobilístico, as explicações são muitas.

No último dia 7, o prefeito Gilberto Kassab (PFL), sancionou lei que cria o Sistema Cicloviário do Município. A resolução, cujo projeto de lei partiu do vereador Chico Macena (PT) estabelece metas como acesso de bicicleta em trens e metrô, criação de novas ciclovias e estacionamentos.

O secretário municipal de Transportes, Frederico Bussinger, demonstra em entrevista à Carta Maior que vê com algum ceticismo – devido ao relevo acidentado e clima instável – a ascensão das bicicletas na capital e cidades do entorno, mas registra que “é preciso valorizá-las bem”. De acordo com o secretário, o Corredor Tiradentes, que irá do bairro localizado quase no extremo leste da capital ao Centro, terá bicicletários nas estações, o que já poderá ser visto nos trechos 1 e 2, entre a estação Mercado (no Centro) e o Sacomã, a serem inaugurados no dia 08/03.

Benicchio aproveita para sugerir uma possibilidade frente à questão do relevo. “A orientação sobre rotas, levando em conta extensão, tráfego e relevo, é importante e deveria ser disponibilizada à população”.

Trens e bicicletas
O urbanista Marco Aurélio Lagonegro, aponta que outra questão central para que as bicicletas se fortaleçam como meio de transporte nas regiões metropolitanas é a necessidade de uma visão mais crítica em relação ao espaço destinado aos carros (link com o texto do Dowbor), que hoje leva a “um desprezo pelo que não é motorizado, ou pelo transporte coletivo, que é abominado por essa elite. As calçadas foram pilhadas e o pedestre vai perdendo aos poucos seus direitos que restam”.

Para Lagonegro, os governantes também “precisam devolver à população brasileira a malha ferroviária que lhe foi surrupiada”. Ele conta que, recentemente, viu um representante da área de transportes do governo federal afirmar em entrevista que “o transporte ferroviário intermunicipal de passageiros é ‘coisa do passado’. Quem decretou isso? A Gol? A Itapemirim? A Cometa?”.

Assim como se deu com as reportagens de Carta Maior sobre os transportes em São Paulo, o governador paulista José Serra aproveitou o feriado de Carnaval para anunciar que pretende, a partir do próximo sábado (24/02) implantar projeto que permita aos ciclistas utilizarem o metrô com suas bicicletas nos fins de semana – no último vagão. Na capital fluminense, tal situação é permitida aos domingos e feriados, nos vagões nas extremidades das composições. Já em Lisboa, capital lusa, o transporte é permitido todos os dias, mais ao final do horário de circulação dos trens.

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